Difícil não se encantar com Alessandra. Dona de uma fala calma e decidida, parece uma pessoa mais velha e experiente do que a maioria das meninas aos 16 anos de idade. Tão tranquila que não dá para imaginar o que ela e sua família passaram no começo de sua vida. Diagnosticada com Vasculite, aos quatro anos de idade teve uma série de complicações que levaram à necrose dos braços e pernas. Como última alternativa para salvar sua vida, a equipe médica optou pela amputação dos membros.

Cresceu tentando entender o porquê das diferenças, e chegou a imaginar que seus braços ainda iriam crescer. Aprendeu cedo a brigar por inclusão, na vida escolar, no lazer e no esporte. Em 2018, com 10 anos, começou a praticar atletismo no clube Espéria, por incentivo da mãe e da irmã mais velha. De lá foi direto para a escolinha de esportes do CPB, onde descobriu um mundo inclusivo e cheio de oportunidades.

Mas durante a pandemia, de volta ao mundo real, ficou incomodada com a exclusão das crianças com deficiência nas atividades de lazer dos eventos públicos que voltavam a acontecer na sua região. Pediu para a mãe organizar um evento voltado para essas crianças. E da mobilização causada pela iniciativa surgiu a semente do Instituto Alessandra Oliveira, fundado no ano seguinte e que hoje atua principalmente no acolhimento e capacitação das mães atípicas.

Com o final da pandemia, voltou a frequentar a escolinha de esportes do CPB e rapidamente seus professores notaram sua aptidão para a natação. Passou a treinar apenas na piscina e começou a disputar competições escolares e a evoluir. Em 2023 começou a fazer a transição para o alto rendimento, pensando em conquistar medalhas nos jogos escolares.

Mas com o bom desempenho veio uma enorme surpresa. Em uma competição realizada em São Paulo alcançou o índice para os Jogos Parapan-Americanos de Santiago e foi convocada para sua primeira competição internacional adulta. Pensa que acabou? Participou de sua principal prova no primeiro dia dos Jogos e conquistou a medalha de Ouro nos 100m peito da classe SB4, e com apenas 15 anos, se tornou a primeira atleta da escolinha do CPB a conquistar uma medalha de ouro em um das 3 maiores eventos da natação mundial.

Alessandra tem hoje 16 anos, é atleta da equipe APNH – SPFC de natação, atual recordista das Américas dos 100m peito SB4 e se prepara para voos mais altos, tanto no esporte quanto na vida.